terça-feira, 20 de maio de 2014

Atividade 6: Gestão democrática e participativa: relatos das possibilidades

NA FOTO:
DIRIGENTE: JOSÉ ROBERTO VARUSSSA
PCNP EDUCAÇÃO ESPECIAL: EDNA MARIA GOUVÊA
PCNP MATEMÁTICA: CARLOS FONTANA
PCNP ARTE: REGINA REBELATTO
PCNP LÍNGUA PORTUGUESA: ELI SANTIAGO JUNIOR


O CINEMA VAI A ESCOLA - DIRETORIA DE ENSINO DA REGIÃO DE LIMEIRA
 Uma carta e algumas lembranças
Olá, amigos e amigas. 
Pode ser que alguns de vocês não me conheçam muito bem. Gostaria de me apresentar e falar um pouco sobre mim. Para isso vou ter que contar algumas pequenas histórias. Histórias dos que ajudaram a me tornar quem sou hoje. 
Devo minha existência à curiosidade constante e imaginação fértil que vocês – seres humanos – possuem, desde o tempo das cavernas, onde se reuniam em volta da fogueira para ouvir histórias, e o crepitar do fogo iluminava de forma especial as imagens pintadas nas paredes, que pareciam estar vivas. 
Tempos depois, cientistas buscavam formas de avançar no registro de imagens e colocá-las em movimento. Estavam descobrindo como funciona a visão humana, retendo imagens por um tempo na retina, inventando brinquedos e aparelhos. 
Quase ao mesmo tempo, alguns deles (Eadweard Muybridge, -Jules Marey, Thomas Edison e os irmãos Lumière) conseguiram realizar inventos que animaram imagens para estudar o movimento dos homens e outros seres vivos. Depois, produziram filmes para uma só pessoa espiar por um orifício. Em seguida, os projetaram em telas para que grupos de pessoas pudessem assistir a eles, nas feiras de ciência, vaudeviles, feiras ambulantes de espetáculos... 
Alguns deles pensaram que eu não duraria muito, pois, até então, as imagens produzidas retratavam somente a realidade – trens, fábricas, parques, incêndios, fatos do cotidiano... Vocês podem imaginar como eu causei reações diversas por onde passei nessa época: medo, surpresa, espanto, estranhamento. Não estavam acostumados naquela época a me ver e a ver em mim as fotografias animadas e histórias contadas com imagens. 
Nos Estados Unidos, um inventor com muito boas ideias (Thomas Edison) percebe que pode contratar pessoas interessantes para ir ao seu estúdio e fazer coisas que outras pessoas gostariam de ver e rever, pagando por isso. 
Na França, um mágico (Georges Méliès), ávido por novos números para mostrar em seu teatro em Paris, ficou muito feliz ao saber da minha existência e logo quis trabalhar comigo. Num desses momentos, seu aparelho de captar imagens falhou e essa falha lhe dá a ideia de como ele pode alterar a ordem das coisas, fazer mágica com as imagens em movimento, produzir novas realidades, interferir no fluxo do tempo. Eu, agora, graças a ele, ganho a possibilidade de contar histórias que não estão no mundo real, mas no imaginário de vocês, criar fantasia, ficções. Começo a ser chamado de sétima arte porque é possível ver em mim a continuidade e evolução das outras artes: teatro, literatura, escultura, música, dança e pintura. 
Como vocês estão sempre querendo ouvir e contar histórias, toda uma nova fase na minha jornada se inicia ao redor do mundo. 
Muitos vão escrever histórias e vão contá-las com minha ajuda. Mais e mais pessoas vêm trabalhar comigo, dividindo tarefas e funções: escrever, dirigir, iluminar, fotografar, atuar, criar cenários, montar figurinos, editar, distribuir, exibir... 
Para que eu chegasse a ser exibido para vocês em salas especialmente construídas para isso, primeiro teria que ser produzido por alguém e distribuído de um lugar a outro do mundo. Isso leva tempo e custa dinheiro. Este dinheiro investido por alguém será pago com os ingressos que vocês pagam nas bilheterias. Para que eu exista, o investimento é alto. Se minha arte-mãe, a fotografia, já era produzida por poucos, eu sou ainda mais. Isso sempre limitou um pouco a minha existência em alguns lugares. Mas continuo vivo e evoluindo, 116 anos depois da primeira vez que fui exibido num salão em Paris. 
Eu agora estou muito mais complexo em forma e conteúdo, sou documental e ficcional. Posso perceber que sou um, mas carrego muitos dentro de mim. Sou romance, sou comédia, sou épico, sou faroeste, sou suspense, sou policial, sou drama... 
Sinto muito orgulho daqueles que me ajudaram a produzir cenas e contar histórias que vocês ainda querem ver e ouvir repetidas vezes. Me emociono ao perceber que produziram cenas de dança memoráveis e contaram um pouca da minha trajetória em Cantando na Chuva; que contaram a história de um cientistas em conflito ético em Frankenstein; que em Cinema, Aspirinas e Urubus se retrata um pouco do que era a minha chegada em cidades pequenas que nunca me conheceram antes; que os percalços dos adolescentes buscando lidar com as mudanças na vida apareça de forma tão sensível em Billy Elliot; que documentaristas registrem fatos que acontecem num lugar do mundo que nem todos visitam em O Fim e o Princípio e eu permita que vocês vejam isso; que as intrincadas situações de poder e suas contradições na sociedade brasileira e o sincretismo religioso sejam apresentados em O Pagador de Promessas; que alguém se apaixone por alguém que está dentro de uma história que estou contando dentro da sala de exibição e se transporte para dentro da tela em A Rosa Púrpura do Cairo; que cômicos geniais, como Buster Keaton em A General, sejam fonte de fatos sociais e históricos; que a angústia da falta de emprego de um pai de família o leve a vagar pela cidade com seu filho em Ladrões de Bicicleta... Tantas histórias, tantos personagens, as sagas desses heróis se repetindo em ciclos que terminam e recomeçam, emocionando vocês porque se veem neles de alguma forma. 
Ah, são tantos os bons pedaços de mim espalhados no espaço/tempo da minha existência... Só posso agradecer a sua atenção carinhosa, me permitindo entrar em suas vidas através dos seus olhos e outros sentidos. Ao entrar na sua sala de aula, fico honrado em poder ajudar a despertar a curiosidade e o interesse por algum assunto ou área do conhecimento humano. Ainda mais feliz se eu suscitar perguntas e conversas sobre as histórias que há tempos as pessoas contam e aqueles que as assistem tiverem vontade de recontá-las.
Dizem por aí que me tornei o imaginário de vocês exibido nas telas. Isso me comove e motiva a continuar a ser a linguagem/técnica/arte que sou por muito tempo ainda. É um prazer conviver com vocês. 
Cordialmente, 
Cinema (1895-....) 

 Um dedo de prosa... 
Acreditamos que o cinema seja um discípulo da Sherazade, aquela que protege a todos que querem e se embrenham na arte de contar histórias. Nele se contaram e recontaram realidades da saga humana e podemos ver refletido nosso imaginário. Ciência e arte se conectam e alimentam entre si. 
Para sermos considerados mentalmente “normais”, segundo o neurocientista Oliver Sacks, temos que saber nos inserir numa narrativa, além de narrá-la com clareza, com certeza no século XX e neste que agora vivemos. O cinema nos ajuda a manter viva a arte da narrativa e nossa sanidade. 
Como estamos continuamente mudando como sociedade, o cinema também se transforma: passa por uma crise da diminuição das suas plateias, aumento dos valores dos ingressos, mudança na tecnologia dos lugares de exibição. Fato paradoxal, já que vivemos na era da imagem, presente em todos os aparelhos portáteis e lares na forma de computadores e televisores. Antes íamos ao cinema, agora o cinema está migrando para nossos lares e pertences pessoais. Estamos pelo mundo, principalmente nas grandes cidades, cercados de imagens... Tantas que nos inebriam a percepção, formando neblina de espectros com sentidos confusos. Enquanto isso, 116 anos depois daquela primeira exibição oficial de filmes dos irmãos Lumière, temos a seguinte situação em relação ao cinema em nosso país: 
- a grande maioria dos municípios do Brasil não possui salas de cinema; 
- desde os anos 1990, vemos uma retomada da produção audiovisual – temos leis de incentivo fiscal para que isso aconteça, melhorou a qualidade técnica da produção de filmes como um todo no Brasil. A questão que fica é: onde esses filmes serão exibidos? 
Nesse cenário surge o projeto “O Cinema vai à Escola”. Talvez para alguns alunos seja a grande oportunidade de assistir a um filme e debatê-lo, de poder projetar-se e identificar-se com as personagens de uma história. 
Todos nós – seres humanos – nascemos de uma história e a carregamos conosco. Temos é que praticar ouvi-las, vê-las, recontá-las, recuperar o ritual mágico das rodas de prosa onde trocávamos mundos e fantasias e nos permitíamos espaço para tantos outros. 
Se cada escola e suas salas de aula se tornarem um lugar para exibir histórias, falar sobre elas, trocar experiências e abrir espaço para perguntas que não querem calar, o cinema continuará vivo, sempre, porque ele está dentro de cada um de nós. 
Permitam-se ver e rever os filmes das caixas do Projeto. Exibam sempre. Pensem em cineclubes nas escolas. Expandam ideias e projetos a partir deste. Educar é reencantar, é instigar a curiosidade no indivíduo para a vida, para si, para o mundo, seja por meio da ciência ou da arte. Permitir que se saboreie o conhecimento, se for assistindo a um filme após o outro, melhor ainda. 
Luis Carlos Pavan Pesquisador da história 
do cinema, músico, produtor cultural 

Careimi Ludwig Assmann Bióloga, 
Mestre em Comunicação e Semiótica, produtora cultural

 Texto produzido por ocasião da videoconferência “Orientação para a continuidade das ações do projeto O Cinema vai à Escola”, exibida em 6 de setembro de 2011, pela Rede do Saber, e disponível em: www.rededosaber.sp.gov.br/portais/Videoteca/tabid/179/language/pt-BR/Default.aspx 2012



Nenhum comentário:

Postar um comentário